Gestão Financeira Pessoal nos tempos de COVID-19
- Lucas Sabóia
- 9 de abr. de 2020
- 4 min de leitura
Nestes momentos de crise mundial em virtude de uma pandemia, totalmente inesperada e com consequências que nem Nostradamus previu para a saúde e a economia, fato é que muitos trabalhadores tem se encontrado numa situação complexa e imprevista: faltará dinheiro no fim desse período.
Para os assalariados, a preocupação é se a empresa continuará a existir ao fim da pandemia e como suportará os pagamentos até lá. Perguntas, ainda, existem: Pode ser que durante esse período não consigam honrar o pagamento? Pode ser que dia cinco o salário não caia? E os benefícios, como ficam? São perguntas que ninguém tem a resposta, mas ante a situação global existe uma insegurança na afirmação.
Os autônomos, profissionais liberais, os que fazem bico, trabalham por conta, como fazer nesses tempos? Se não tem prestação de serviço, comércio, trabalho, não tem dinheiro entrando em casa. Esperar, também, a ajuda do governo Federal neste momento é achar que o bote salva vidas vai salvar todos os náufragos do Titanic. Não se sabe o que fazer nesse cenário, não se tem a precisão de como será o futuro, como fazer sem ter a entrada mensal de recursos, o que torna impossível as previsões. Se é impossível que as autoridades médicas digam até quando vai a pandemia, é impossível para os profissionais descritos saber como fazer os pagamentos de contas e manutenção do padrão de vida.
Trazendo para o meio jurídico, com os clientes precisando cortar despesas, a última linha de pagamento será a linha jurídica, já que poucos entendem esse como serviço essencial. Ainda, com a suspensão dos prazos processuais, sem a possiblidade de levantamento de alvarás e recebimento de sucumbências, muitos escritórios estarão numa situação de não ter entrada de recursos para cumprir com o pagamento de seus empregados, associados e sócios.
Nas horas de crise o pensamento sobre a importância de ter uma reserva financeira de emergência que suporte o padrão de vida por um período vem à tona. Profissionais especializados, como planejadores financeiros dirão que o essencial é ter uma reserva financeira que dure de seis meses a um ano. Porém, o tempo que a reserva deverá contemplar é o de menos e, sim, a importância de tê-la que conta.
E como calcular uma reserva financeira de emergência? O que é considerado ideal? Pra começar, deve-se saber com a maior precisão possível quais são as despesas mensais. Ter divisão entre os gastos necessários e os supérfluos é desejável, não primordial. Tenha tudo: gastos com moradia, educação, locomoção, lazer, almoço, jantar, clientes, pet, etc. Tenha, também, gastos com bancos. Pode parecer que não, mas gastos com tarifa de manutenção de conta, anuidade de cartão de crédito, juros decorrentes de utilização de cheque especial, etc. contam, e muito, no fim do mês e deverão ser considerados na conta.
Tendo toda a soma das despesas, é sabido exatamente qual deve ser a receita para “empatar” o jogo; ou seja, para que não haja dívidas caso passe por um sufoco novamente. Agora é montar uma estratégia para que se possa poupar esse valor mensalmente, até criar a reserva financeira de emergência.
Novamente, pode-se falar em tempo que uma reserva financeira suporta, porém a decisão é individual. Se tomar como base a pandemia do COVID-19, na qual alguns profissionais ficarão parados por, ao menos, três meses sem rendimentos e, considerando a volta da economia e do padrão econômico anterior, projeta-se mais um mês totalizando quatro meses sem entrada de recurso. Então, neste caso, é correto pensar em, no mínimo, seis meses de reserva financeira de emergência como algo factível.
A partir da meta estabelecida deve-se verificar a real capacidade de poupar mensalmente e faze-la até que a reserva esteja completa. Meta tem que ser cumprida!! E na hipótese de não existir capacidade de poupar? Criam-se meios para, identifique e corte gastos supérfluos, veja possibilidades de incrementar a renda e crie a reserva!
Importante, também, pensar que essa reserva deve ser alocada em algum investimento de alta liquidez, já que não sabe quando irá precisar nem se terá tempo para aguardar o resgate. Como sugestões, para esses casos, a boa e velha caderneta de poupança ou o tesouro direto são os melhores investimentos para tanto. Não em rentabilidade, porque é baixa e nem se pensa nisso, apenas por liquidez.
Outra questão que veio à tona com essa pandemia foi a gestão de riscos, principalmente seguro de vida.
Sim, porque a reserva financeira de emergência não é eterna e se, numa hipotética possibilidade, o provedor financeiro da família vem a falecer? Se ele é acometido por algum problema de saúde e que ficará impossibilitado de trabalhar para sempre? Não se sabe as consequências que a COVID 19 trará para o mundo, mas certamente essas duas situações acima podem ocorrer, se já não ocorreram em muitos lares.
Seguros de vida devem ser interpretados como essenciais para uma gestão financeira completa. Não são opcionais, tendo seguro de vida continua-se precisando de uma reserva de emergência, são fatores complementares e ambos têm sua importância. O seguro de vida traz uma tranquilidade a família em caso de falta do segurado, com a possiblidade de manter o padrão de vida sem a necessidade de mais traumas na família.
Deve ser encarado como uma despesa necessária, aliás, não despesa, mas como um investimento necessário. E, nesse caso, diferencia-se de um seguro de automóvel: em algumas modalidades permite-se o resgate depois de um tempo. Não é olhar como desperdício, é ver como vida!
Fato é que o pensamento de uma gestão financeira equilibrada deve existir sempre e os momentos de crise só fazem lembrar da importância de alguns temas. A construção e manutenção de uma reserva financeira emergencial e a existência de um seguro de vida devem ser premissas básicas para que isso ocorra. Não existindo uma das duas, ou ambas, a gestão financeira está incompleta.
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